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Por que algumas iniciativas globais na área da saúde não estão sendo eficazes?

Artigo original publicado pela Newsweek: Disponível em

https://www.newsweek.com/why-are-some-global-health-efforts-failing-opinion-1751649

HARALD NUSSER
DIRETOR DA DIVISÃO “GLOBAL PATIENT SOLUTIONS” DA EMPRESA GILEAD SCIENCES

O número oficial de mortos em decorrência da COVID-19 já ultrapassa 6,5 milhões de pessoas. E, quando nesta estatística os pesquisadores incluem os casos de mortes que de algum modo também estão associadas à pandemia, esta cifra atinge um número muito maior.

Muitas destas mortes trágicas poderiam ter sido evitadas. De acordo com um novo estudo publicado pela The Lancet, embora a pandemia “tenha revelado desigualdades na área da saúde e mostrado a impressionante fragilidade de nossa capacidade de reagir rapidamente aos efeitos da pandemia, nosso fracasso coletivo na tentativa de construir sistemas de saúde ágeis e resilientes, que possam atender às necessidades de todos, não deveria nos causar surpresa”.

Tendo trabalhado há muitos anos em iniciativas relacionadas à saúde global, tenho testemunhado as razões pelas quais muitas pessoas costumam ser surpreendidas por tal fracasso – e não apenas durante as pandemias. Muitas vezes, embora as empresas vangloriem-se de seus êxitos, elas deixam de prestar a devida atenção aos aspectos nos quais as iniciativas globais estão deixando a desejar.

As deficiências das atuais iniciativas globais são “debatidas de modo discreto nos corredores das agências globais de saúde em Genebra, Nova York e Seattle, mas a sociedade como um todo acaba não tendo acesso a estas conversas; caso isso acontecesse, poderia haver um maior aprendizado”, declarou recentemente Madhukar Pai, professor de epidemiologia e saúde global na Universidade McGill, em um post.

Por óbvio, os êxitos contidos nestas iniciativas devem ser comemorados. As pessoas dedicam um grande empenho às iniciativas de saúde global, correndo um risco considerável, e as suas conquistas têm uma grande importância. Na Gilead, onde trabalho, costumamos dar destaque a histórias de sucesso, que são igualmente valorizadas em inúmeras empresas. Seja no contexto em que milhões de pessoas são curadas da malária ou no contexto de redução do consumo de tabaco, as empresas ligadas à saúde são merecedoras do orgulho que advém destas conquistas. Isto é especialmente verdadeiro para os profissionais da área da saúde que trabalham na linha de frente, desempenhando as tarefas mais importantes e mais desafiadoras para o planeta. É muito comum que eles se tornem invisíveis e que sejam subvalorizados, embora consistam no pilar de sustentação dos programas de saúde globais.

Porém, é preciso que nós, líderes de empresas na área da saúde, também encaremos a realidade. Em várias regiões do planeta, a qualidade dos serviços de assistência médica ainda é precária. E, quando um determinado lugar se depara com ameaças à saúde de sua população, isso implica em ameaças em um nível global. Quando uma determinada população conta com um nível menor de proteção contra alguns vírus, cresce a probabilidade de estes vírus continuarem a sofrer mutações; com isso, aumentam as chances de eles desenvolverem variantes mais resistentes às vacinas, que então se espalham pelo mundo inteiro.

Encontrar novas soluções

Para corrigir as deficiências do sistema de saúde global, temos de adotar uma nova e diferente abordagem. Com frequência, as iniciativas atuais desconsideram a necessidade de adequar diferentes abordagens a cada país, considerando as especificidades de cada região.

Há grandes diferenças entre os sistemas políticos e econômicos dos países, e as pressões para o enfrentamento das doenças são igualmente diferentes. Além disso, há países que carecem de uma infraestrutura básica, e enfrentam desigualdades extremas. Consequentemente, para que as pessoas mais carentes tenham acesso a medicamentos e tratamentos que possam salvar vidas, é preciso muito mais do que indivíduos com as melhores intenções. 

Isto significa que as pessoas comprometidas com a saúde global devem adotar estratégias e planos distintos para cada país. Minha equipe na Gilead está iniciando uma colaboração com a Observer Research Foundation, cuja sede está localizada na Índia, para que possamos avaliar, de modo abalizado, quais práticas têm sido eficazes e o que deve ser aprimorado.

A princípio, o foco de nossa avaliação está em seis países: Índia, Bangladesh, África do Sul, Ruanda, Marrocos e Vietnã. Com isso, temos uma mescla de países que se diferenciam no que diz respeito a níveis de rendimento, ao tamanho da população, à qualidade da infraestrutura de seus sistemas de saúde etc. Juntos, estes países concentram uma população de aproximadamente 1,8 bilhão de pessoas. Temos trabalhado nestes países há muitos anos, e o nosso conhecimento e nossos contatos de residentes locais nos permite o acesso a informações contextualizadas e fidedignas.

O início deste processo se dá por meio da escuta e de um diálogo respeitoso com pessoas destas comunidades e com governos que possam compartilhar as dificuldades que eles enfrentam, e também descrever os obstáculos estruturais que lhes impedem o acesso a uma adequada assistência na área da saúde.

Este projeto nos permitirá examinar melhor as abordagens inovadoras que direcionam as comunidades no caminho rumo a uma cobertura universal da saúde em cada país. Com ele, poderemos saber os motivos que impedem alguns programas muito bem-intencionados de atingirem os resultados desejados. Nosso objetivo é descobrir e compartilhar as práticas eficazes para promover sistemas de saúde equitativos e inclusivos, e que apresentem bons resultados no que se refere à assistência médica oferecida aos pacientes e também ao controle dos custos. Tanto a viabilidade econômica quanto a possibilidade de acesso a esta assistência são fundamentais.

Deste projeto resultará um estudo que explicitará as práticas eficazes em cada país e de que modo elas são colocadas em ação. Resultará também um plano de ação para reverter a atual maré da saúde global, oferecendo aos governos, a companhias internacionais, às empresas de assistência médica e a seus acionistas, detalhados planos de ação para a elaboração de programas que desafiam o status quo e conduzem à mudança.

Temos razões para alimentar esperança. As novas tecnologias e os avanços científicos são capazes de transformar o atual estado da saúde global – contanto que esteja clara, para nós, a necessidade de transformação de muitos programas de saúde globais.

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